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Encrava-Línguas

Pertencendo ao domínio das rimas infantis, o trava-línguas – textos destinados a ser ditos muito depressa, causando efeitos cómicos ou absurdos – são importantes para as crianças durante a fase de exploração da palavra, entre os três e os seis anos. A sua brevidade, os padrões sonoros/rítmicos e a presença de elementos repetitivos ajudam à memorização, sem por isso extraviarem o lado lúdico da linguagem, essencial ao desenvolvimento das competências leitoras. De João Manuel Ribeiro (n.1968), escritor e editor da Trinta Por Uma Linha, Encrava-Línguas responde a esse estímulo, operando com desenvoltura entre a construção e a desconstrução de sentidos. Um exemplo: «Pus os pés nos pós pretos. / Pus os pós nos pés pretos. / Pus pretos de pós os pés. / Que poeirada!». O trabalho de ilustração atém-se a um registo decorativo, mas isso não diminui o valor da obra. É que, tal como as lengalengas, adivinhas, provérbios, também os trava-línguas realizam o que se designa por «ginástica da língua». Numa época em que se salta de plataforma em plataforma (digital), é como voltar à ginástica sueca e ao leite Vigor. Ou seja, faz bem. Dos mesmos autores e editora, veja-se também o livro Improvérbios, para outras variantes sobre textos descendentes do património oral.

Carla Maia de Almeida, Revista LER, livros & leitores (nº102, p. 83), 2011.