Cartas a Jovens escritores II

Querido Alberto,

Gosto de escrever poesia porque a considero um tipo de texto muito especial e com características muito próprias.


A poesia, para mim, condensa um conjunto de qualidades que a tornam única e diferente de todos os outros textos, como o som e o ritmo, a musicalidade e a cadência, a métrica e a rima, as figuras de estilo, a alteração normal do uso da língua e da gramática (que a poesia tantas vezes contraria), a acumulação de imagens e a construção de uma linguagem com várias interpretações.

Estas qualidades próprias da poesia levam-me a dizer que ela capta e expressa a realidade (a vida, o mundo, a história) de forma especial e é um género literário com uma beleza única.


Gosto de poesia porque ela me permite contar em poucas palavras uma grande história, o que revela um grande trabalho com elas (o seu corpo, a sua voz, o seu nome) e com os muitos sentidos que nos oferecem.


Gosto de poesia porque ela nasce e dirige-se ao coração, sem abandonar o pensamento, e diz-se por palavras. Ou porque, como diz Robert Frost, “a poesia acontece quando uma emoção encontro o pensamento e o pensamento encontrou as palavras”.


Gosto da poesia porque ela faz vibrar o meu coração, de contentamento ou de tristeza, de entusiasmo e de revolta.


Gosto da poesia porque acredito que ela possibilita uma educação ativa e lúdica, desenvolve a memorização, ajuda a criar um bom ambiente na sala de aula, motiva os alunos, desenvolve a compreensão, o sentido da beleza, a sensibilidade afetiva e relacional, a comunicação oral e escrita, a criatividade e o gosto pela leitura.


Gosto da poesia porque ela é sempre mais do que aquilo que dela dizemos. Dela não pode dizer-se que esteja aqui ou ali, que seja deste ou daquele modo, nem, talvez, que seja deste ou daquele tempo, porque não se cabe em nenhuma definição.


Gosto de poesia porque ela esteve sempre presente na minha vida desde a mais tenra idade. Chegou-me primeiro pela audição, depois pela leitura e, por fim, pela escrita.


Se não houvesse mais nenhuma razão (ou se as aqui apresentadas te parecerem tontas) bastaria, para mim, dizer-te, querido Alberto: gosto de poesia porque sim!


Abraço grande,

João Manuel Ribeiro