Cartas a jovens escritores III
Querida Mafalda,
As ideias estão em toda a parte e são com as cerejas!
Uma ideia para um texto, seja poema, conto ou narrativa, pode aparecer em qualquer momento, até mesmo durante a noite.
Costumo dizer que encontro ideias para escrever no que vejo, oiço, cheiro, penso, sinto e toco. Com isto quero dizer que os sentidos são “radares” de boas ideias e eu tenho os “radares” sempre ligados.
A imaginação é outro lugar a que vou “roubar” ideias: gosto de imaginar coisas “inimagináveis”, coisas distantes ou fora da realidade; coisas ainda não inventadas, que só existem na (minha) imaginação, fazendo perguntas
e inventando respostas.
Os sentimentos são outra fonte importante de ideias, porque as emoções, levadas ao pensamento e envolvidas em palavras certeiras, constituem os melhores ingredientes para a escrita de textos, sejam brincalhões ou sérios.
As memórias ou recordações da infância (mas não só) são também um lugar a que regresso com muita frequência para colher ideias para histórias, traços para personagens, paisagens para a descrição de lugares,
expressões para diálogos, entre tantas outras coisas.
Finalmente, mas não menos importante, tenho de confessar que os livros de poemas, contos, narrativas, aventuras e até romances que leio, me fornecem muitas ideias para explorar, aprofundar e escrever, quase sempre trocando-as ou colocando-as às avessas, outras vezes, continuando-as, dando-lhes um rumo novo e diferente.
Não posso terminar, Mafalda, sem te dizer que, não raras vezes, as ideias são uma aparição, isto é, não são, aparentemente, motivadas por nenhuma circunstância ou acontecimento, mas nascem na cabeça (e no coração), simplesmente! Assim mesmo, sem mais! O importante é estar preparado para as receber e semear na brancura do papel, dando-lhes textura, quer dizer, tornando-as um texto.
Abraço grande,
João Manuel Ribeiro