Cartas a jovens escritores V
Querido Hugo,
Tenho dado conta de que, efetivamente, muitos colegas teus – e porventura tu – estão convencidos de que escrever uma história, um conto, um poema não dá nenhum trabalho, é apenas fruto da inspiração e do talento.
Não é assim. A escrita é um trabalho que dá trabalho por maior que
seja o talento.
Quando se fala da escrita, é costume apresentar-se as qualidades do escritor como os três “ts”: de talento, técnica e trabalho. Apesar de distintas, no escritor estas qualidades reclamam-se mutuamente.
É preciso ter talento – há quem lhe chame jeito ou queda – para inventar, criar e persistir na escrita. O talento, porém, não se compra nem se vende, tem-se ou não se tem.
É preciso, também, conhecer e dominar bem as técnicas da escrita para escrever bem, com correção e elegância.
É preciso, ainda, o trabalho que implica esforço e disciplina para que a escrita se cumpra, como quer o autor e espera o leitor.
As técnicas de escrita todos os escritores devem conhecer. O talento e o trabalho são inversamente proporcionais: onde falta talento será necessário um esforço maior, onde abunda o talento haverá, porventura, um trabalho menor.
O trabalho está sempre presente, seja em maior ou menor quantidade. Nem pode ser de outro modo. A excelência na escrita, como na dança, na música, na pintura e em todas as artes, nasce do talento e da técnica, mas também do ensaio, do treino, do esforço contínuo.
Pois é, Hugo, por muito talentoso que sejas, tens de conhecer e dominar as técnicas de escrita e, sobretudo, tens de treinar, escrevendo, reescrevendo e voltando a escrever até que o texto esteja e seja considerado perfeito.
Tens de trabalhar e ser exigente com o que escreves.
Boas escritas.
Abraço grande,
João Manuel Ribeiro