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Livro de Explicações

de João Manuel Ribeiro

Do desalinho

Por entre os braços
crescemos 
como videiras
cercados de coração
pele cabelos
e romarias de mãos
as raízes mingam do chão
e alongam-se pelos olhos
como cachos de alegria

dentro da casa
aprendemos
a circulação dos ciclones
o exato trabalho
de exilar na garganta
a acústica do vento
que estilhaça a ausência
como chuva miudinha
entre as pernas do poema

no interior do outro
sangramos
as intempéries assinaladas
com facas mordeduras e salivas
o lugar onde a vida
inexoravelmente se esvai
e se reconstrói no exercício
de morrer em desalinho