Raio X com … João Manuel Ribeiro

Prazer e emoção

É um apaixonado pela escrita, e em particular a poesia. E não pensem que é só para miúdos! “Notícias fugazes do amor” também chega aos adultos, conquistando também um lugar cativo no Plano Nacional de Leitura. João Manuel Ribeiro, visivelmente orgulhoso, estabelece um balanço destes primeiros 10 anos nesta grande e bem-sucedida aventura na escrita

 

Como olha para a integração destes quatro livros no Plano Nacional de Leitura?

Com satisfação, porque trata-se de um reconhecimento e de uma recomendação para os leitores. Além disso, estes quatro livros em concreto, são especiais para mim. Dois porque integram os três que publiquei para celebrar os 10 anos de escrita e são antologias: o “E para o poeta outro modo de olhar” e o “Pó-pó-pó, tiroliroliroló”. Outro porque é um livro que me diz muito, pelo conceito e pelo tema, o “Palavras-chave”. E outro porque é um livro de poesia para adultos, o “Notícias fugazes do amor”, e é a primeira vez que vejo um livro meu recomendado para esta idade.

Considera-se um poeta de emoções?

Diria que as emoções são um tipo de “razão” comum a toda a gente. O que distingue os poetas é o modo como a captam e interpretam. Neste sentido, diria que sim, sou um poeta de emoções, sem dispensar o trabalho com a linguagem.

Já são 50 livros na bagagem. Como chega a tamanha inspiração?

A inspiração, o que quer que isso seja, vem da atenção às coisas, às insignificâncias da vida e da história.

A vida, as notícias, os eventos que vivo, sinto e interpreto são a matéria-prima de que extraio os textos que escrevo. Não há nenhuma poção mágica ou qualquer segredo: apenas paixão pelas palavras e pela linguagem e atenção aos factos do dia a dia.

Há, todavia, alguns livros que nasceram da necessidade de responder a questões específicas e concretas, em que s inspiração é apenas investigação e trabalho de escrita.

O interesse pela escrita esteve desde sempre presente na sua vida? Houve influência de alguém em particular?

Desde que tenho consciência de mim que o desejo da escrita me habita. Por influência do meu avô materno que encheu a minha infância de amor às palavras, ao som, corpo e ritmo das palavras. E também às histórias, as escritas e as contadas, as sabidas e as inventadas.

Os professores que encontrei ao longo da vida foram também decisivos no meu processo de crescimento na escrita, pelo que me ensinaram, pelo que me deram a ler e, sobretudo, pelo incentivo em persistir.

Tem alguma obra especialmente marcante?

Sim, o livro “Meu avô Rei de Coisa Pouca”, por ser autobiográfico e por narrar a importância do meu avô, já referido, na minha vida pessoal e de escritor.

Como caracteriza o leitor de palmo e meio?

O leitor de palmo e meio é, na generalidade e contrariamente ao que possa pensar-se, um leitor inteligente e exigente, que não se contenta com qualquer coisa e não quer ser considerado um pateta. É, naturalmente, um leitor com especificidades que dependem da sua idade, dos seus interesses e de outros fatores circunstanciais. Além disso, é um leitor em construção, o que implica trabalho próprio e apoio (intervenção) de um (bom) mediador. Daí a dificuldade e exigência maior em escrever para estes leitores.

Como define a sua obra até ao momento?

Plural, multifacetada e, sobretudo, poética. Não tracei nenhum programa nem delineei qualquer estratégia para a dita “obra”. Ela foi sendo gerada de acordo com um conjunto de imponderáveis e de circunstâncias a que fui dando resposta sem obediência a nenhum critério além do de escrever (com prazer e emoção) e publicar.

Gosto de pensar que a minha “obra” é um “work in progress”. Será o que vier a ser.

Considera que o digital facilita na divulgação dos autores? Estamos perante um novo modelo de comunicação?

O digital talvez ajude e seja importante na divulgação dos autores e da sua obra. Mas uma coisa é a divulgação, outra bem diferente é o acesso à criação. Estudos recentes mostram que os leitores (de literatura) continuam a preferir os livros em papel. E isso é, ainda, importante para os autores.

Por outro lado, o digital veio revolucionar a presença e divulgação dos autores, ao nível da visibilidade, da proximidade, da atualidade e da democraticidade do acesso de todos aos autores. Neste aspeto, concordo que estamos diante de um novo e interessante modelo de comunicação de que muito podem aproveitar os autores.

Que balanço estabelece da sua carreira?

Não me agrada pensar em termos de carreira, a não ser na proximidade que carreira tem de “carreiro” (de formigas e não só).

Mas, na verdade, ao olhar para estes 10 anos de escrita considero que algum carreiro foi feito e que algumas marcas estão já tatuadas no coração e na mente de alguns leitores. Muitos leitores (miúdos e graúdos) foram gerados e isso talvez seja o único facto digno de ser assinalado, e que muito me apraz.

Já são 10 anos de carreira. Algum plano futuro a destacar à VIVA!?

Não tenho planos para o futuro, a não ser, se possível, continuar s escrever e a publicar. Se isso me for permitido, considero que valeu a pena ter começado há 10 anos.

http://www.viva-porto.pt/7-Dias-Sugestoes/fimdesemana3agosto2018.html