Revista Pais&Filhos

“Escrever é contribuir para a felicidade das crianças”

A celebrar 10 anos de escrita para crianças, promete continuar. Sobretudo para os mais novos ou para todos os que “ainda se sentem crianças”. Mas, confessa, aquilo que gosta mesmo é de se encontrar com os seus leitores nas escolas, local onde aprendeu… a “desaprender”.

 

Como e quando começou a escrever para crianças?

Em 2005, pediram-me para escrever uma história de Natal num colégio onde colaborava. Escrevi “Estrela e Príncipe da Paz”, que conta a história do natal, do ponto de vista de um dos Reis Magos. O livro foi um verdadeiro sucesso no colégio. Nos dois anos seguintes voltei a escrever histórias de Natal. Pensei: se calhar tenho jeito para escrever para crianças! E comecei a escrever pequenos poemas que compilei no meu primeiro livro, o “Rondel de Rimas para Meninos e Meninas”, em 2008.

Desde então, nunca mais parou…

Em verso ou em prosa, com contos, aventuras, narrativas ou em jogos poéticos, nunca mais deixei de escrever para o público infantojuvenil. Digo, às vezes, que escrever para crianças é a forma que encontrei de tornar viva a minha infância feliz, a forma que descobri de continuar a ser criança, e também de contribuir, a meu modo, para a felicidade das crianças.

É fácil educar o gosto pela leitura nos mais novos?

Não. Em primeiro lugar, porque para muitos pais e educadores a leitura ainda só tem um valor instrumental e funcional, isto é, só é importante ler para “obter” informação. Em segundo lugar, porque a dita “leitura por prazer” reclama tempo e disponibilidade de que, em geral, pais e educadores não dispõem. Inúmeros estudos mostram que quem define efetivamente o gosto pela leitura nas crianças é a família. Educa-se o gosto pela leitura nos mais novos lendo para eles e com eles, e eles para nós.

Tem dedicado muito do seu tempo a levar a literatura às escolas. O que “aprendeu” nesta experiência?

A “desaprender”, a não ter esquemas ou receitas pré-feitas, a deixar que os livros e os textos que escrevi, quando lidos e “trabalhados”, me surpreendam pelos trabalhos realizados, pelas perguntas inteligentes que me fazem e pela alegria que despertam. Aprendi também que me tornei um andarilho, de um livro para outro, de uma escola para outra, de um projeto para outro. Sempre com poesia e livros na bagagem. O que mais gosto, digo-o repetidamente, é de me encontrar com os meus leitores, sobretudo em escolas. Aprendi ainda que a literatura é, para mim e para todos um indispensável supérfluo, isto é, algo que não sabemos para que serve, mas sem a qual a vida não tem sentido e de que não podemos prescindir.

Que público prefere: adultos ou crianças?

Prefiro, inegavelmente, crianças. Ou para aqueles, que mesmo tendo vivido já muitos anos, ainda se sentem crianças! Costumo dizer que escrevo para leitores e tenho a felicidade de as crianças gostarem do que escrevo. Esse gosto inclui muitos adultos, o que me compraz, decididamente!

Helena Gatinho