Imprensa

(Im)Provérbios

Na sequência de outros volumes, de vários autores, sobre provérbios, analisados neste boletim, tem-se realçado o seu valor rítmico e rimático como iniciação à fruição da “poesia”, através do viés acústico.

O livro denominado Improvérbios anuncia, logo no titulo, um processo de desconstrução. E assim acontece, por meio das paráfrases trabalhadas sobre alguns textos sobejamente conhecidos. Se o provérbio é uma forma codificada de conhecimento, ao desconstruí-lo deixa de o ser, entrando-se num mundo de jogos fonéticos e semânticos particularmente gratos ás crianças.
Nos jogos deste livro encontram-se, sobretudo, situações invertidas: “Depois da bonança / a tempestade nunca é mansa; de evidência: Quem sai aos seus / tem pança e bigode / e nunca pode / dizer-lhes adeus; ” de absurdo: “Quem tem boca vai, / onde a língua lhe chegar”; de acrescento: “Quem filhos tem, / não tem só cadilhos, / tem brilhos também”.

A ilustração de Flávia Leitão opta por um traço de gosto infantil, ás vezes caricatural, com muito cromatismo, abrangendo intencionalmente, como texto icónico, toda a página onde o texto gráfico passa a ser uma mera legenda.

A paginação colorida e o design gráfico de Anabela Dias inscrevem-se harmoniosamente na finalidade do livro.

A partir dos 5 anos

Manuela Maldonado 


PROVÉRBIOS DO AVESSO 

Numa espécie de brincadeira com a “sabedoria do povo”, João Manuel Ribeiro virou do avesso alguns provérbios populares. Ora trocou uma palavra, ora inverteu um ditado, ora juntou o início de um ao final de outro. Com um pouco de confessada “maldade”, o autor quis pôr em causa algumas máximas raramente questionadas. Isto porque considera que os provérbios “têm tanto de sabedoria, como de tolice”.

“Mais vale nunca só nem mal acompanhado”, “quem tem boca vai onde a língua lhe chegar” são apenas alguns exemplos das alterações a provérbios conhecidos. “A minha vontade é a de pôr os miúdos e os adultos a refletir sobre ideias feitas, através de uma leitura lúdica”, diz o autor e também editor do livro. Para captar a atenção das crianças explorou ainda a parte fonética dos ditados. A possibilidade de dar a conhecer os seus textos a crianças antes mesmo de os publicar tem-lhe facilitado a perceção do modo de ler dos mais novos. O doutoramento que está a preparar envolveu o convívio diário em Coimbra com 15 turmas do 4.° ano do 1.° ciclo, num universo de mais de 200 crianças. Eis porque está tão à vontade com os imaginários que as fascinam, como já era notório em títulos seus anteriores, casos de “Rondel de Rimas para Meninos e Meninas” e “A Menina das Rosas”.

Para a ilustradora Flávia Leitão este é o primeiro livro de capa dura que desenha, conseguindo no entanto estrear-se em sintonia com as palavras e o humor dos (im)provérbios criados. A opção por dar unidade a cada plano, mesmo se a cada uma das páginas corresponde uma ideia distinta, resulta bem. O formato pequeno do livro também se adequa ao espírito da coleção a que dá início: Ditos (Im)populares.

Dizem os especialistas que a leitura deste tipo de obras carece sempre da presença de mediador, para que assim a criança possa entender melhor o jogo que se faz com as palavras e as ideias. Seja.

Rita Pimenta, Pública (Letra Pequena)